Transitando entre a cultura pop e a erudita, com uma prosa ágil, mas sem deixar de lado o caráter poético da linguagem, A Arte Brasileira da Guerra é um romance – tendo em vista os acontecimentos da política brasileira nos últimos meses, a eleição de Donald Trump e as polêmicas em relação à crise de refugiados em todo o mundo – dramaticamente atual.
Entram em cena um imigrante haitiano buscando uma vida nova em um país estrangeiro, um radialista de orientação conservadora que tem repercussão nacional ao comparar imigrantes a ratos, uma jovem escritora que vê sua carreira tomar um rumo inesperado depois de um vídeo polêmico viralizar na internet, um professor desempregado em uma busca obsessiva pela verdade sobre a morte do pai, o idealizador de um projeto para a islamização da periferia brasileira que acabará se envolvendo em uma polêmica de proporções catastróficas com o recém-criado Comitê para a Restauração da Moralidade Nacional, entre outros.
Flertando com elementos do romance policial, o autor nos apresenta um pequeno painel das relações humanas – sempre pontuadas por uma espécie de tensão paranoica –, onde a vida dos personagens, cada vez mais expostos ao lusco-fusco moral que constitui aquilo que compreendemos como mundo contemporâneo, aos poucos, vão se entrelaçando, até a inevitável conclusão que parece comprovar o alerta feito por Louise, a protagonista feminina, forte e enigmática, deste romance: “Os braços da história não comportam inocentes. Os que não matam fomentam a matança”.
Ficção / Romance