Que tal pensar o poema como uma máquina de cessar? Em meio ao voo veloz que a tudo ultrapassa, fugaz e instantâneo (“o jato rasga o tempo”), em meio à pressa opressiva que a tudo devora (“nenhum projeto se segura na garupa”), o poeta flana por outras rotas, desvendando sua cidade singular – feita de concreto ou da fumaça que se desenha no azul, no contrafluxo: construindo uma geografia íntima entre o prédio e o precipício, com seu passo imprevisto sobre o abismo (entre corpo e mente). Essa arte de andar por aí sem portar um celular é a parada, o pensamento-pênsil, a ideia que sai do tempo e entra no inesperado, que sai do texto e entra no presente. É a arte da surpresa, da escrita, de vencer a gravidade com o peso da palavra, de inventar o que o olhar prevê, na sequência, quadro a quadro, até o próximo frame. “Até que o silêncio seja”: esta mesma surpresa que define a própria arte da escrita.