Na mais remota Antiguidade, a ciência empírica e pragmática de diversos povos obteve conquistas esparsas e assistemáticas, mas foi o gênio grego que iniciou, em torno do século VI a.C., a busca de uma compreensão unitária e racional do universo. Nessa época, na Grécia, especulações filosóficas começaram a substituir as antigas construções mitológicas.
A origem desse salto permanece enigmática, mas sua importância é inegável: foi o início de uma aventura intelectual decisiva na história humana, que perdura até hoje.
Desses pensadores originários, comumente denominados pré-socráticos Heráclito de Éfeso, Parmênides de Eleia, Empédocles de Agrigento, Anaxágoras de Clazômenas, Pitágoras de Samos, Leucipo de Mileto, entre outros , só fragmentos, ou referências posteriores, chegaram até nós.
Hegel lhes dedicou uma parte importante das suas Lições sobre a História da Filosofia, e sua interpretação teve grande influência. Depois, em 1878, Hermann Diels organizou cuidadosamente os materiais remanescentes, o que possibilitou análises mais sistemáticas. Nietzsche e Heidegger ocuparam-se deles extensamente.
Em 1892, John Burnet, classicista escocês reconhecido por sua erudição, professor de grego na Universidade de St. Andrews, tradutor de Platão, publicou A Aurora da Filosofia Grega, em que organizou, traduziu e comentou os fragmentos, apresentando suas próprias interpretações, algumas das quais inovadoras. Propôs, por exemplo, que a ideia de que a realidade está na forma e não na matéria ou seja, a ideia platônica por excelência remonta a Pitágoras, embora só tenha sido claramente formulada na época da Academia. Assim, a filosofia de Sócrates estaria mais próxima à dos seus antecessores do que normalmente se pensa, e a própria denominação "pré-socráticos" poderia ser questionada.
É certo que esses pensadores originários, que tentaram compreender o mundo de uma forma nova, não se lançaram em um caminho completamente inexplorado. Pontos de vista razoavelmente coerentes deviam existir, pois o mundo humano já era muito antigo quando a ciência e a filosofia começaram. Em particular, o mar Egeu tinha sido o centro de uma civilização desenvolvida desde a era neolítica uma civilização tão antiga quanto a do Egito ou a da Babilônia e superior a ambas na maioria das coisas que contam.
Mesmo assim, diz Burnet, "algo novo aquilo a que chamamos ciência surgiu no mundo com os primeiros mestres jônicos. Eles foram os primeiros a apontar o caminho que a Europa tem seguido desde então. Uma descrição adequada da ciência seria dizer que ela consiste em pensar sobre o mundo à maneira grega. É por isso que a ciência nunca existiu senão nos povos que sofreram a influência da Grécia."
Esta edição da obra de John Burnet preservou cuidadosamente as citações gregas originais, apresentando as respectivas transliterações e traduções. Torna-se, assim, uma referência para estudiosos de várias áreas.
Filosofia / História