Um livro singular
Esta Caixa-Preta me venceu. Ao mesmo tempo violento e doce - e esta é sua singularidade maior - , ela fara com que o leitor percorra suas páginas como quem lê um romance, mas romance dos bons, daqueles em que você tem pressa de virar a página porque o fio da moeda é tenso, não afrouxa nunca.
O livro é violento quando mostra, por exemplo, um carniceiro como esse coronel Hipólito, antigo companheiro do autor na Escola de Aeronáutica, assassinando a sangue-frio o oficial aviador Alfeu de Alcântara Monteiro, na primeira visitado ministro Nelson Lavenere Wanderley às Zonas Aéreas do país 9 no caso em Porto Alegre), logo depois do golpe. Esse Hipólito,cujo nome não escrevo sem algum asco, se tornara ajudante-de-ordens do ministro da ditadura.
Mas o livro também é doce - e é doce principlamente quando fala de uma figura suave como Waldir Pires, de dimensão humana admirável, no qual a história do Brasil ainda não fez justiça. Pois este livro começa a fazê-la. Do governo da Bahia ao Ministério da Defesa (ironia do destino!) do presidente Lula, Waldir pires é sempre uma lição de caráter. E um exemplo de humildade,como todo homem de exceção.
falei em história do Brasil. Pois este livro é História do Brasil,mas História assim, com maiúscula. desde as raízes amargas do golpe até que lhe fechem o caixão, que vai se fechando, graças a Deus, nas sessões da Comissão em que seu processo é julgado que o autor aparece de corpo inteiro.
Vá lá leitor, você mesmo vai descobrir emocionado o fim do romance. E, sem nenhum pieguismo, dificilmente vai conter uma lágrima, ainda que furtiva. Pois, como a História que escreveu, a Vida do comandante Mello Bastos é uma Vida assim, com maiúscula.
(Marcos de Castro,Jornalista,autor)
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