A trama de seus romances e as paixões de suas personagens fazem de Stendhal um escritor romântico. O estilo seco e a precisão com que representa a sociedade do século XIX colocam Henri Beyle (verdadeiro nome do escritor) entre os maiores representantes do realismo. E a ironia e a estrutura farsesca de um livro como A cartuxa de Parma são precursoras da literatura do século XX: Stendhal abdica da representação totalizante do mundo em proveito de uma visão parcial da realidade, expressando a psicologia instável do herói ou anti-herói moderno. Todos esses valores, contraditórios entre si, estão presentes neste romance em que o jovem aristocrata e ingênuo Fabrício Del Dongo vive peripécias amorosas e conspirações palacianas na Itália. Ao lançá-lo no período imediatamente posterior às guerras napoleônicas, Stendhal contrapõe um maquiavelismo solar cujo símbolo, para ele, era essa terra de intrigas passionais às maquinações de uma burguesia financeira que, em sua França natal, havia sepultado o ímpeto revolucionário representado por Bonaparte. Por trás de toda a arrebatadora leveza de A cartuxa de Parma, enfim, há um fundo alegórico que é político e até mesmo antropológico: uma apologia da energia vital e da beleza (essa promessa de felicidade) contra a hipocrisia e o pragmatismo.
Ficção / Literatura Estrangeira / Romance