Podemos escapar do que nos constrange? O poder é mais forte que o desejo? As ambivalências e as descontinuidades habitam A casa de Bernanda Alba, peça maior do poeta e dramaturgo espanhol García Lorca, assassinado durante a Guerra Civil Espanhola. Como palco de todas as formas de opressão, a casa exibe as filhas de Bernarda Alba submetidas ao regime ditatorial que é continuamente reproduzido nas relações interpessoais. O realismo cotidiano desse drama de mulheres em vilarejos na Espanha conjuga-se com o surrealismo vindo dos absurdos que se revelam na constância da mão forte de Bernarda Alba. A pressão pela continuidade de um mundo servil se vê todo tempo em crise diante das novas experiências e da inalienável presença do corpo. A tragédia, pois, impera diante da imanência da certeza da ruína. Para que A casa exista e perdure, são preciosos os escombros, o trabalho da memória nos incidentes que se tornam irreversíveis. Sob um céu de chumbo e dentro de um verão interminável, as filhas de Bernarda iniciam-se na ciência da vera e fera existência.