Dandelion Wine ©1957 '-' (...) Depois de obras como Fahrenheit 451, O Homem Ilustrado, O Mundo Marciano, Os Frutos Dourados do Sol, As Máquinas da Alegria, (todas elas incorporadas na Colecção Argonauta da editorial "Livros do Brasil", é uma honra poder apresentar mais um romance -- um romance do "estranho" e do "fantástico" --, que é, ao mesmo tempo, um poema extraordinário desse grande escritor da Ficção-Científica chamado Ray Bradbury'.'
(...) as fronteiras da Ficção-Científica não se encontram delimitadas com rigorosa precisão. De resto, talvez não haja nenhum género literário cujos limites se encontrem codificados para todo o sempre. Todas as pretensões realizadas nste sentido acabam por desvanecer-se perante o génio. Os escritores dotados de espírito criador poderoso e forte -- e são esses que marcam os momentos culminantes da História Literária -- não raro se não eximiram à tarefa de estilhaçar tranquilamente os moldes canónicos que lhes aprisionavam a imaginação. O mesmo sucede no campo da Ficção-Científica e desse facto é Ray Bradbury um dos exemplos mais assinalados.
A Ficção-Científica não se caracteriza, se não estamos em erro, nem pela antecipação nem pelo facto de a acção - quando existe - se desenrolar em planetas diferentes da Terra ou em zonas do Universo que se não confinam às nossas dimensões de seres terrestres. Tão pouco se caracteriza pelo tipo de episódios e de heróis que habitualmente, e de forma predominante, povoam as criações dos seus cultores.
Além desse tipo de obras, aliás devidamente representadas na Colecção Argonauta, na qual têm por igual o seu devido lugar, há obras lídimamente de Ficção-Científica que, representando uma incursão no reino do possível, do ainda não-realizado, podem com justos motivos incluir-se neste novo género literário.
Estão nesse caso os livros mais recentes de Ray Bradbury, o escritor a quem já se chamou "o Poeta da ficção-científica". Pelo que respeita à Cidade Fantástica, parece ter sido preocupação essencial do seu Autor o mostrar até que ponto o real quotidiano esconde o maravilhoso e o possível, até que ponto a imaginação e a sensibilidade podem revelar o fantástico existente, sem disso nos apercebermos, na nossa experiência quotidiana.
Foi desse ângulo que, por nossa parte, lemos A Cidade Fantástica e decidimos da sua inclusão na Colecção Argonauta, certos de que a sua publicação viria contribuir para o conhecimento mais profundo de uma das suas linhas dominantes. Além disso, como seria possível ficarmos insensíveis à beleza de um estilo cujo valor se impõe a qualquer leitura, de um estilo que é dos mais puros e da mais rara beleza entre os mais belos e mais puros da Literatura Contemporânea?
Os caminhos da Ficção-Científica são vários e diversos. Esforçamo-nos por que todos eles tenham na Argonauta o seu lugar: desde o romance de acção e aventura nos astros ignotos, em sistemas desconhecidos, até aos romances-previsão, aos romances-problemas, e também aos livros de Ficção-Científica poética, como são os de Ray Bradbury, e entre os quais avulta A Cidade Fantástica, que temos a honra e o prazer de apresentar'.'
Ficção científica