Um catador de latas vibra com o lixo deixado na praia durante a noite de Réveillon. Alpinista social descobre a face sórdida do noivo ricaço. Uma chef de sucesso executa vendeta contra o tio que a molestou. Sadomasoquista entra em crise com o marido na lua-de-mel. Professor aposentado lida com a falta de perspectiva. Rapaz não consegue terminar o namoro. Seres contraditórios, imersos em angústias e alegrias, ganham vida graças à verve vigorosa de Paula Parisot, a designer de moda que estréia na literatura com A Dama da Solidão. Dona de um texto conciso, recheado de erotismo e banhado em um humor sagaz, a escritora esmiúça as relações humanas em 21 contos de ritmo pulsante. É leitura de um só fôlego.
Paula escreve sem presunção. Não há nenhuma ousadia lingüística, seja o relato em primeira pessoa, na narrativa onisciente ou em forma de cartas. É pela simplicidade que seus personagens soam autênticos. Falase de gente comum, de problemas corriqueiros – como as rugas que chegam – e de outros nem tanto – caso da homossexual que assiste aos encontros hétero da amada. Tem-se aqui uma espécie de “a vida como ela é” versão light. Não se trata de uma prosa visceral, tampouco transgressora. Mas do começo digno de uma promissora contadora de histórias, ainda que à sombra de seu ídolo (e entusiasta), Rubem Fonseca.