O plano do governo obedecia a um antigo costume Argentino: gastar a mais sem se preocupar com quem deve pagar a conta nem quando deve fazê-lo. A desproporção do gasto e o incentivo ao capitalismo dos amigos necessitavam de índices suaves e manipuláveis. A Argentina, que sempre foi considerada o país mais europeu da América do Sul, passa por um momento bastante tenso com o aumento da pobreza, o calote nos credores internacionais, a inflação corroendo os rendimentos e o peso argentino. Poderíamos esperar uma ação enérgica dos políticos do país vizinho, mas aparentemente o governo dos Kirchner está mais preocupado em se autoperpetuar no poder e calar os opositores. Tão perto e tão longe, a Argentina estampa matérias em jornais e revistas, mas qual de nós, brasileiros, pode dizer que conhece em profundidade o abismo onde o país vizinho se precipita? E, pior, este mesmo abismo poderá nos tragar. O livro de Jorge Lanata, “A Década Roubada”, não trata apenas da corrupção endêmica do governo Kirchner, mas também de como a Argentina desperdiçou as condições favoráveis da economia mundial para crescer e se desenvolver, e, muito pelo contrário, regrediu em vários pontos. Um governo pautado por falsos ufanismos e um discurso que recria a “realidade” ao seu bel-prazer para atender a outros interesses que não a verdade, que estabelece como inimigos todos que ostentam opiniões divergentes, em especial os meios de comunicação. Neste ponto, também é possível estabelecer um paralelo com as recentes tentativas do governo brasileiro de calar e “listar” as vozes mais incômodas da imprensa. Este livro não serve apenas para que saibamos sobre a situação do nosso vizinho. Ele serve, acima de tudo, como um alerta aos brasileiros acerca dos perigos que se descortinam no horizonte de eventos.
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