Na América, todas as leis procedem de certo domo do mesmo pensamento. Toda a sociedade, por assim dizer, está fundada sobre um único fato; tudo decorre de um princípio único. Poder-se-ia comparar a América a uma grande floresta atravessada por uma infinidade de estradas em linha reta que confluem para o mesmo ponto. Trata-se apenas de encontrar a praça circular, e tudo se descortina com um único relance de olhos.
Carta de Tocqueville ao conde Molé, 1835.
Toscqueville, portanto, foi buscar nos Estados Unidos não um modelo, mas um princípio a ser estudado e uma questão a ser ilustrada e resolvida; em que condições a democracia, se está é um estado de sociedade, se torna também o que ela deve ser por não conduzir a uma ditadura: um estado de governo. [...]
A América lhe oferece, como sociedade e como cultura, uma democracia pura. E um governo deduzido dessa herança aristocrática, sem legado absolutista, sem paixões revolucionárias. Com, ao contrário, uma tradição de liberdades locais coletivas. Por todos esses traços ela constitui, mutatis mutandis, um objeto de reflexão capital para os europeus.
François Furet
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