"No começo da guerra, tomámos de assalto uma casa que tinha sido uma pousada. Rompemos pela cave entrincheirada e lutávamos na escuridão com fúria animal, enquanto a casa, em cima, já ardia. De repente, movido porventura pelo calor do incêndio, ouviu-se lá em cima o piano mecânico, que começara a tocar somo um autómato. Nunca esquecerei, misturada com os rugidos dos combatentes e com o estertor dos moribundos, a charanga indiferente de uma música de dança."
Publicado em 1922, "A Guerra como Experiência Interior" é simultaneamente um testemunho das tempestades de aço que se abateram sobre o mundo com o início da Primeira Guerra Mundial, e uma reflexão sobre o homem novo que a fúria industrial de matar e morrer veio afinal gerar.
Texto prenunciador, em muitos aspectos, das facetas mais sombrias do século XX, este livro põe em evidência o modo como esse homem novo estava destinado a partir em busca das teologias políticas com que alguns (à direita e à esquerda) o quiseram embriagar, e como sobretudo ele fez uso da guerra para recusar o lado superficial e mecânico do progresso material e da civilização herdada do Iluminismo.
Filosofia / História