"Em 'A metamorfose', romance em que, sob a feição de uma parábola moderna, e com base em toda uma radição universal se condensa o drama da liberdade do indivíduo, tanto em sua existência física quanto espiritual, tanto em sua dimensão concreta quanto intemporal. O próprio romancista, tentando definir o sentido do seu livro, assim o configurou: 'Como criação simbólica, alegoria ou fábula, poderá ser considerado a história de uma transformação humana. O núcleo do tema - um homem que é devorado por cães e termina convertendo-se em árvore - não é pessimista. Essa Árvore, escrita em maiúscula, seria a própria fonte da vida.'
O romance contém mais de um nível de leitura: alguns podem ver a expressão de verdades apocalípticas ou escatológicas, e outros podem, com propriedade, encará-lo como um relato ao tempo intenso e apaixonado, em que o homem é decomposto em sua forma corporal e na projeção do seu espírito, simultaneamente ou através de estados de exacerbada dissocação com os componentes de fantasia e realidade, concretude e subjetivismo. De uma maneira ou de outra, é obra nada convencional, incluindo-se entre as mais inovadoras.
É preciso atentar sempre para o sentido metafórico e, portanto, poético. O próprio ambiente, a atmosfera criada e a presença dos cães significam um símbolo ou emblema intensamente trágico, dasafiadoramente enigmático. A devoração do personagem, antecedida de seu despojamento progressivo, dos conflitos da consciência dividida entre a destruição e a 'ressureição', fixados pelo romancista com um rigor de frio analista que evita explorar o patético das situações - tudo isso encerra vibrante mensagem de humanismo e, em termos de arte ficcional, um redimencionamento dos valores de nosso tempo. O romance fixa, em suma, um protesto contra a frustração, a impotência do homem ante oos efeitos da civilização macanicista e adoradora do dinheiro." (Mariano Torres)