Nunca foi necessário explicar a exploração a um trabalhador. Longe dos retratos à sépia que eternizam as dores dos escravos das manufaturas e a insalubridade dos pardieiros, A noite dos proletários é um périplo pelas noites dos operários emancipados da primeira metade do século XIX. Jacques Rancière revela uma galeria de figuras autodidatas e constrói uma teia de textos em cujos fios ressoam as vozes anônimas e esquecidas de artesãos, sapateiros, alfaiates e tipógrafos, que dedicavam as suas noites à leitura e à escrita. Condenados pela sua condição material a dias de trabalho e a noites de repouso, os operários, num peculiar exercício de subversão ao cair da noite, eximiam-se assim a esta sujeição, quebrando a ordem do tempo e rompendo com o desígnio que destina alguns aos privilégios do pensamento e que relega outros para a escravidão do trabalho.
Filosofia / História / Sociologia