Talvez este seja o livro mais completo sobre Glauber Rocha, até onde um livro pode ser completo sobre o cineasta da estética da fome. Para os que conheceram Glauber, que privaram de seu convívio, o livro da pesquisadora Tereza Ventura carrega uma carga evocativa capaz de gerar fortes lembranças. Primeiro, porque a força avassaladora, vital, do pensamento glauberiano está muito bem apresentada, fazendo com que seja possível rememorar os bons embates intelectuais nos quais se transformavam qualquer bate-papo com o cineasta. Escrever sobre o homem Glauber, e sobre o seu espírito de agitador cultural, dono de um dos raciocínios mais privilegiados que já se viu, não é coisa para fraco de entendimentos. Por isso, é preciso afirmar o quanto este livro é afoito, e não apenas por realizar uma exaustiva análise sobre a vida, a obra e o pensamento do grande cineasta, mas também por fazer isto com uma enorme carga emocional. Este é o principal mérito de Tereza Ventura, uma autora infatigável e uma brava lutadora, que superou todos os obstáculos para apresentar aos leitores este “A Poética Polytica de Glauber Rocha”. É certo que política e poética são coisas opostas. A política trabalha com a especulação e a conciliação de opostos. Política é senso de oportunidade mais audácia. Quanto à poética, esta é sempre radical. Como na antinomia vida/morte, a poética e a política se anulam. Está é a grande tragédia de Glauber, e de tantos outros artistas desiludidos, porque não conseguiu conciliar sua visão nacional e a realidade injusta imposta pela contingência. Foi, de todos os gênios do Brasil, o que mais soube colher resultados no esforço de fazer da arte uma política, uma estética e um ato de transformação.