A questão democrática envolve muitos aspectos, conforme procuramos demonstrar no primeiro dos ensaios aqui reunidos. Nesse texto, também estão referidas as singularidades brasileiras. Participamos daquilo que - no livro tornado clássico The third wave: democratizationin the late twentieth century (1991) - Samuel Huntington (1927/2008) denominou de “primeira onda democrática”, ocorrida no século dezenove, isto é, a primeira fase de disseminação do modelo de governo representativo, até a centúria anterior circunscrito à Inglaterra. A partir daí, isto é, coincidindo com a implantação da República, temos nos limitado a seguir a onda. Acompanhamos o refluxo que se seguiu à mencionada fase, pegamos carona na segunda onda (início do pós Segunda Guerra) e logo acompanhamos o novo refluxo geral para, enfim, participarmos do que batizou de “terceira onda”, subseqüente ao fim do salazarismo e do franquismo, na Europa. Temos nos mantido nessa situação, enquanto a maioria dos países latino-americanos, como nos refluxos precedentes, segue a praxe, isto é, planta exótica em seu meio, o regime democrático acaba sendo abandonado. Contudo, embora continuemos desfrutando das liberdades essenciais, típicas do regime democrático, enfrentamos descrédito da classe política, dos partidos e do Parlamento de inusitada intensidade.