A Religião Grega na Época Clássica e Arcaica, tal é o título desta volumosa obra (633 págs.), o que só por si nos dá provas da extensão teórica do tema, da riqueza da mitologia greco-romana, sem esquecer a sua filosofia, que também aos deuses contempla. O autor é professor honoris causa pelas universidades de Toronto e Friburgo. A obra inicia-se com o culto na Época Minoico-Micénica e prossegue até à época grega clássica em diferentes níveis, que também aos deuses contempla, tendo durado do século VIII até 478 a. C. Já então se revelava digna predecessora da(s) sua(s) posteridade(s). (Convém acrescentar que o tema é inesgotável, pelo que esta obra, declaradamente, está longe de o exaurir, complexo e multímodo como é. Aqui nesta obra temos apenas uma excelente abordagem.) A exegese da religião grega pode tomar vários caminhos, entre eles o do mundo natural, o da metafísica, o da literatura, o da filosofia – sendo ela tão “refinada quanto bárbara”, um fenómeno histórico. Também se escreve sobre o Cristianismo versus Paganismo e, ao mesmo tempo, uma história de religiões entre si, expondo o mito e o ritual, a tese e a antítese, a psicologia e a sociologia, as combinações freudianas com efeitos etnográficos, o reflexo de tudo na literatura, nomeadamente na comédia burlesca. (Isto significa, a meu ver, que a religião grega era uma forma de estar no mundo e entrar no imaginário mais que a prática testemunhal da divindade.) E lá viria o tempo de se chegar à salvação de uma religião cósmica e metafísica. E aí temos Platão, que legisla sobre a religião filosófica e a religião da pólis. Como seria de esperar, esta obra é notavelmente enriquecedora.