Os poemas que compõem "A Ruptura", volume de estréia de Robson Gamaliel, são assombrados pelo fantasma das quebras violentas e das roturas inesperadas. Em seus versos, todas as camadas de vida estão em iminente desmembramento e não é o cenário do pós-rompimento que interessa ao autor, mas o denso microcosmo que envolve a própria fratura.
A noção de arrebentamento é microscópica, como ampliar um tecido em proporções gigantescas no momento exato de seu rasgo e observar o apartar das linhas, a dissolução dos fios e das tranças, o surdo estampido de sua disjunção, as partículas de poeira a se desprender de cada minúscula unidade. A violência dos rompimentos súbitos é a matéria prima desse livro, como se nos observássemos na superfície de um espelho que em um milésimo de segundo se esfacela em nossa frente - a força física que impeliu sua quebra, as minúsculas lascas de cada ranhura, os estilhaços cujo sinal os olhos mal podem captar são as fagulhas escondidas em cada palavra.
Se a nostálgica fotografia de um casal é rasgada ao meio, separando quem dela faz parte, dividindo a unidade antes formada, não é sobre as consequências da separação que Robson Gamaliel escreverá, mas sobre o próprio ato de separar, sobre o barulho exaltado do corte, a cisão das fibras do papel.
A Ruptura é, de certa forma, o ponto final a qual todos estamos fadados.