A Vida Quotidiana na Colónia do Sacramento (1715-1735) (Coleção A Vida Quotidiana #48)

A Vida Quotidiana na Colónia do Sacramento (1715 - 1735) de Paulo César Possamai; Rev. de matriz: Mónica Brito. Tese de doutoramento do autor na Universidade de São Paulo '-' A Colónia do Santíssimo Sacramento, situada na margem esquerda do Rio da Prata, na Banda Oriental -- em território que é actualmente do Uruguai -- foi fundada a 22 de janeiro de 1680, pelo governador do Rio de Janeiro, D. Manuel Lobo, em obediência ao plano do príncipe regente D. Pedro (o futuro rei D. Pedro II de Portugal) de expandir os domínios portugueses na América, afim de assegurar vantagens territoriais e económicas à Coroa portuguesa. Por entre inúmeras e por vezes dramáticas vicissitudes, e com alguns intervalos em que regressou a domínio espanhol, a Colónia manter-se-ia sob administração portuguesa até 1777.

O presente livro do Prof. Paulo César Possamai descreve a vida quotidiana na Colónia do Sacramento -- o primeiro assentamento europeu no território que viria a formar o Uruguai--, através do estudo e análise de uma grande variedade de documentos, na sua maior parte constituída pelas cartas enviadas pelos governadores de Colónia e Buenos Aires aos governos de Lisboa e Madrid. Reconstituem-se assim, num trabalho profundamente inovador sobre um episódio não muito conhecido da história da presença portuguesa na América do Sul, as relações dos portugueses com os espanhóis e com os indígenas durante este período; as condições de vida dos militares que constituíam a guarnição da fortaleza; e a existência diária de agricultores e artesãos, do clero católico e, ainda, dos mercadores e contrabandistas que, cada um a seu modo, desenvolveram e fizeram prosperar a região'.
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[Resenha de Luciano Figueiredo na Revista de História em 17/9/2007] A história da formação do Brasil também tem uma espécie de “lado B”. São regiões relegadas diante do Nordeste açucareiro ou das bandeiras paulistas, alguns dos grandes sucessos da época colonial. Não é com facilidade que encontramos publicações dedicadas a Goiás ou ao Maranhão. A esta indiferença, a Colônia do Sacramento junta outra característica: foi cedida aos espanhóis antes de ali brotar o Uruguai. Ou seja, o lugar, além de negligenciado, escorregou para fora do mapa do Brasil. Mas a história da colonização só ganha sentido se esquecermos a geografia atual e considerarmos como funcionava um império marítimo. Portugal, senhor do maior deles, foi especialmente hábil em negociar concessões territoriais para preservar sua soberania na Europa. A Colônia é memória viva disto, um bastião instalado pelos portugueses à beira do Rio da Prata – e sujeito a um grande troca-troca com a Espanha –para que a prata que descia de Potosí atendesse ao comércio das especiarias orientais. Paulo Possamai explica em seu livro como o papel militar da Colônia induziu historiadores a considerá-la somente tema de batalhas e diplomatas. Ultrapassando essas muralhas, examina uma de suas raras épocas de prosperidade, quando encontra a vida cotidiana dos moradores sobressaltados pela guerra. Acompanha de perto o desembarque de casais vindos de Trás-os-Montes, trata dos soldados famélicos que ali serviam e se amotinavam, e descobre imaginativas técnicas de comércio ilícito – uma febre naquele “ninho de contrabandistas”. O cotidiano, quando bem examinado, revela, no surpreendente dia-a-dia das pessoas, como os impasses da política e dos interesses europeus chegavam longe.
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