O "Discurso sobre a Negritude" integra o espólio conformado por todos os pronunciamentos feitos durante a I Conferência Hemisférica sobre a Negritude, "Negritude, Etnicidade e Culturas Afro nas Américas", evento dedicado a Aimé Césaire, celebrado na Florida International University (FIU), em Miami, de 26 a 28 de fevereiro de 1987. Esse evento foi convocado por Carlos Moore e o espólio organizado pela African Heritage Foundation - radicada em Miama, Florida, criada especificamente para esse fim -, cujo arquivo compreende as alocuções pronunciadas durante a Conferência, assim como a gravação audiovisual da mesma. As principais alocuções desse evento foram publicadas na obra organizada e editada por Carlos Moore, com assistência de Tanya R. Sanders e Shawna Moore, African Presence in the Americas, Trenton (New Jersey): África World Press, Inc., 1995.
De fato, a Negritude não é essencialmente de natureza biológica. (...) A Negritude, aos meus olhos, não é uma filosofia. A Negritude não é uma metafísica. A Negritude não é uma pretensiosa concepção do universo. É uma maneira de viver a história dentro da história: a história de uma comunidade cuja experiência parece, em verdade, singular, com suas deportações de populações, seus deslocamentos de homens de um continente a outro, suas lembranças distantes, seus restos de culturas assassinadas. (...) Vale dizer que a Negritude, em seu estágio inicial, pode ser definida primeiramente como tomada de consciência da diferença, como memória, como fidelidade e como solidariedade. Mas a Negritude é apenas passiva. Ela não é da ordem do esmorecimento e do sofrimento. Ela não é nem da ordem do patético e da dor. Não é nem emoção nem dor. A Negritude resulta de uma atitude ativa e agressiva do espírito. Ela é um despertar, um despertar de dignidade. Ela é uma rejeição, e rejeição da opressão. Ela é luta, isto é, luta contra a desigualdade. Ela é também revolta. (...)
Sociologia