Amanhã Vai Ser Maior: o levante da multidão no ano que não terminou é uma coletânea de 25 artigos, divididos em cinco partes (Ruas, Redes, Afetos, Conceitos e Metrópoles), que se debruçam sobre as várias facetas das manifestações iniciadas no Junho “maldito” de 2013, cuja polifonia continuar a ressoar, desfazendo certezas sociais e políticas, escandalizando os satisfeitos e abalando o gatopardismo crônico da sociedade brasileira — para quem, cordialmente, parecia prudente que se mudasse tudo para que, no fim, nada mudasse. A partir do commonismo do desejo forjado nas ruas, nas lutas, a imanência tragou velhos deuses e ídolos, colocando em xeque a vontade de despotismo nossa de cada dia.
A multidão no Brasil – como na Turquia, Espanha e em todos os lugares do ciclo de lutas que se alonga desde 2011 – exige uma “democracia real”, contra a democracia fantoche que nos vendem o tempo todo. É, de fato, uma ideia bonita. Mas estariam as lutas políticas da multidão, apesar de explodir ruidosamente em cena, condenadas a ser fugazes e efêmeras, inefetivas contra os poderes dominantes? A falta de unidade e liderança central minaria qualquer consequência política duradoura para as lutas da multidão? Seria a vida dessa multidão “sem liderança” cheia de barulho e de fúria, mas sem significar nada? Ou, ao contrário, seria a força da multidão como o “leão proletário” de Marx: embora temporariamente subjugado e aparentemente domado, uma força selvagem que só vai ser verdadeiramente reconhecida no futuro? (do prefácio de Michael Hardt)