No fictício emirado árabe de Dofa, uma série de atentados a bomba reivindicados por uma até então desconhecida organização revolucionária desperta reações variadas na população local. Para Samantar, contemplativo bon-vivant, trata-se de uma aberração inexplicável em um lugar assolado pela miséria, em que a relação entre explorador e explorados inexiste, por não haver riqueza em parte alguma do país. Para o xeque Ben Kadem, primeiro-ministro do emirado, as explosões significam uma oportunidade de conseguir chamar a atenção do restante do mundo para seu país, ignorado até pelos vizinhos por não ter uma gota sequer de petróleo em seu subsolo. Já o idealista e talentoso músico Hicham vê a incipiente rebelião como a chance que a população local precisava para expressar sua revolta. Por outro lado, para o cínico e zombeteiro fora-da-lei Shaat, tudo não passa de uma grande piada.
Em Ambição no deserto, Albert Cossery cria uma intensa trama de intrigas e disputas por poder e notoriedade em um Golfo Pérsico sacudido pela sede por petróleo do dito mundo civilizado e abalado pela transformação de sua população nômade e altiva em meros empregados das grandes potências capitalistas. Escrito no estilo elegante e peculiar que consagrou seu autor entre os principais nomes da literatura francesa do último século, é uma lição de resistência à globalização pela vertente mais extrema: a recusa radical ao modo de vida burguês e a todas as pretensas maravilhas vinculadas a seu consumismo desenfreado.
Ficção / Literatura Estrangeira / Romance