Ambiguidade

Ambiguidade Simona Argentieri


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Ambiguidade





O conceito de normalidade não é algo natural, normal, portanto, na vida humana. A subjetividade nos envolve e dela retiramos a beleza de nossas diferenças culturais, étnicas, raciais, políticas e psicológicas. Porém, só existe o belo se em contrapartida temos a noção do feio. E assim é para todas as coisas. A tudo podemos distinguir melhor e com mais clareza se soubermos o seu contrário ou oposto: mais e menos, sombra e luz, direita e esquerda, certo e errado, morto e vivo. Mas fazer coexistir dois destes pensamentos antagônicos num mesmo período de tempo e espaço pode levar ao conflito. É justamente a zona de sombra entre o pensamento e a ação que o acompanha, o que a autora chama de “má-fé”, a figura central de Ambiguidade, da psicanalista italiana Simona Argentieri.

Partindo fundamentalmente de sua larga experiência clínica, a autora relata casos em que a má-fé está presente no dia a dia de seus pacientes. Há uma ambiguidade do pensamento que evita o conflito interno como se o sujeito não quisesse se responsabilizar pelo que ele vê, pensa ou faz. Tal falta de comprometimento, porém, gera problemas éticos: a má-fé como neurose parece ser uma solução de compromisso sintomática entre aquilo que o sujeito sabe que deveria fazer e o que ele realmente faz. Como aponta o poeta Affonso Romano de Sant’Anna no prefácio, “Neste contexto, surge a efemeridade teórica e social de nossa época, o relativismo: as verdades e mentiras se equivalem”.

De acordo com a autora, a mentira, o cinismo e a hipocrisia perderam status de algo imoral, pois a educação dos pais tornou-se frouxa por serem eles próprios representantes da antiga autoridade que ainda parece dizer: “façam o que eu digo, mas não façam o que faço.” Se os próprios pais já não conseguem ser exemplo para os filhos, suas palavras caem por terra. Esta permissividade tem produzido “pais maternos”, isto é, pais fracos em sua missão de fazer existir o desejo de transmitir aos filhos os limites e suas consequências. Daí surge a má-fé como crime. Crime sem castigo.

Filhos autoritários, crianças com diversos transtornos de ansiedade, angústia, medo, pânico, fobias derivados da desorientação na vida. Há uma clínica do excesso. Um distúrbio grave na compulsão à repetição. Não que se queira, como a própria autora adverte, ser juiz para julgar moralmente os casos. Mas como ajudar no caminho de cada um? Há um erro para os que acham que grande liberdade estaria em poder ter tudo. A maior liberdade que o ser humano pode ter é a possibilidade de saber escolher. E este livro é uma bela escolha, não só para os profissionais da área, mas para todos os que se preocupam em pensar suas ações não sem o outro.

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Vale a leitura.
on 15/1/19


Apesar de desde o princípio ser a proposta da autora a utilização de uma linguagem coloquial, o escrito acaba por em diversos momentos cair em afirmações que aparentam ser demasiadamente pautadas no senso comum. Além disso, um certo conservadorismo também se faz presente A ideia central explicitada diz respeito a má-fé enquanto um mecanismo de defesa vigente na contemporaneidade. Tese bem interessante, principalmente quando aplicada a posicionamentos políticos. Nessa conjuntura, mesmo... leia mais

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