Estendida seminua no grande leito entre brancos lençóis, Angélica suspeitou que finalmente chegara a hora de sua morte. Em meio ao delírio, reviu em imagens os acontecimentos cruciais de sua existência e, segundo diziam, isso ocorria no instante fatal.
O luar de verão penetrava pela janela entreaberta, que trazia até ela o ruído ritmado da ressaca e o chamado dos lobos-marinhos. Estava em Salem, cidadezinha da América cujo nome quer dizer "paz" e cujos habitantes jamais viviam em paz. Por um momento ela poderia jurar que se encontrava em Argel, à procura de seu amor desaparecido: Joffrey! Joffrey!
Levantando os olhos numa última e louca súplica aos céus, avistou os anjos. Viu-os nitidamente, franqueando a soleira do quarto. Tinham tamanhos diferentes, e a mesma beleza irreal, de uma juventude eterna. Mas estavam vestidos de preto, e traziam no peito a infamante marca vermelha!
Eram os Anjos da Morte.
Vinham buscá-la.
Romance