O livro “Aristóteles” apresenta uma reflexão pertinente acerca do Estagirita. Entendemos que ao falar de “O Filósofo”, Höffe destaca bem todas as áreas do pensamento grego, herança aristotélica para nós. A metafísica, o estudo do ser enquanto ser (tí estí), a realidade e a investigação do inteligível, “das coisas que são em si mesmas” são destacáveis. Em Aristóteles a metafísica se apresenta de várias maneiras: ontologia, usiologia, aitologia e teologia. Nesse sentido, o Ser é apresentado de várias maneiras (legatai pollakos) e deve ser investigado nessa perspectiva. Assim, o domínio do modo de pensar grego cosmocêntrico caracteriza-se como o cosmos centro de tudo, o homem dotado da essência do Ser e voltado para a pólis (páxis) e o saber (theoria). Höffe certamente relacionar metafísica, antropologia e ética aristotélica, mesclando epistemologia e estética de Aristóteles. O Ser em si se manifesta no homem, ente; o homem é ousia-eidos, corpo e matéria que transcende. Aquele se volta para o Ser, interrogando-o e criando um discurso racional sobre a essência inteligível. No entanto, essa reflexão desdobra-se em práxis ou agir humano, em relação a si e ao semelhante, que compartilham com ele a vida na pólis. Ou seja, uma ação em busca da felicidade, da ação universal, da virtude e do caráter. Estar no mundo contingente exige uma condição necessária para sobreviver. Assim sendo, a leitura de Aristóteles nesse momento é de suma importância para contemporaneidade. Hoje, no mais da vezes, é preciso desconstruir a negação da base ontológica para a ética, a epistemologia e a antropologia. No tempo hodierno, saber do pensamento aristotélico é criticar o pensamento contemporâneo cuja base é a pragmática dicotomizada da realidade, gerando valores cujas referências se encontram na busca do hedonismo, do poder, da fama, do status, do lucro. O homem deixa de voltar-se ao nous, negando toda uma base para a felicidade (teleologia filosófica). Guerras em proporções inéditas, derramamentos de sangue, Holocausto, são alguns exemplos que a história do século passado pode provar. As ciências que ajudam a movimentar a máquina de guerra, do mercado financeiro, da opressão humana e da miséria apontam o resultado do que é capaz o homem quando perde a razão inteligível da existência. Dado o exposto, a introdução ao pensamento aristotélico é fundamental para conceber o homem como zôon logikón (animal racional), dotado de psyché que se volta para o Ser; e que atua no mundo num sentido ético-político, zôon politikôn, que entende a primazia do Logos na vida; e também é pathê (paixão) e érexis (desejo), onde a ação do homem sofre a intervenção da razão. Para Aristóteles, o ser se manifesta de diversas formas (legai pollakos): ser lógico, ser acidental, ser dinâmico e ser estrutural. Portanto, o auge da felicidade do homem está no bem da comunidade, no conhecimento do inteligível, cujo método foi elucidado em “Aristóteles”.
por Moisés dos Santos Viana