A poesia é o modo não-instrumental de lidar com a linguagem. Se as palavras, desviadas do consumo imediato a que o intercâmbio da comunicação corrente as expõe, passam a falar por si mesmas para além de seus significados comuns; se organizadas em padrões rítmicos também dizem das coisas pela pulsação do sentimento que as anima, deixando em cada verso ou frase uma significação em suspenso, como pergunta e perplexidade ou uma significação tensa, como agressão e protesto; se finalmente desencadeiam, entre som e sentido, o "poder de silêncio" que concentram, como apelo capaz de revelar o mundo ao homem e o homem a si mesmo — então quem emprega as palavras desse modo não-instrumental se faz poeta, porque cria da linguagem e na linguagem um espaço inter-subjetivo de conhecimento e de encontro dialogai. Essa conduta lúdica para com a linguagem, lida e luta, que identifica o genuíno poeta, identificando-o à sua obra, marca os poemas de Age de Carvalho em ARQUITETURA DOS OSSOS.
Benedito Nunes Belém, 1980.