Após anos de meditação em sua caverna no alto da montanha, apenas na companhia de seus amigos — a águia e a serpente, Zaratustra determinou-se a descer ao campo. Era tempo do eremita comunicar aos homens a chegada de um novo messias, o Übermensch — o super-homem, o dono do futuro.
Nietzsche teria se inspirando na fantástica personalidade de Zaratustra ou Zoroastro, fundador do zoroastrismo, a religião persa, para compor a obra. Historicamente Zaratustra foi um profeta ariano que por volta de 600 a.C. pregou a existência do Bem e do Mal como entes distintos e antagônicos. Até esta época acreditava-se que um mesmo deus tinha o poder sobre ambos.
Provavelmente ainda emocionado pela educação crente, pois era filho de um pastor luterano, o pensador alemão — ateu assumido, lança mão do carismático líder religioso do passado para transmitir a sua mensagem em prosa, mas carregada de tom de sermão, de parábolas, simbolismos, imagens litúrgicas e locais sagrados.
O objetivo de Zaratustra é atingir uma fatia específica da humanidade, os höheren Menschen — homens superiores, ignorados por Cristo. Zaratustra é o Cristo da elite, escreveu o evangelho do super-homem, é quem anuncia o novo tempo, a era em que Deus morreu — dass Gott tot ist!, na qual o Homem se apressa para assumir o poder total, e terá que arcar com todas as conseqüências morais e éticas de um mundo sem Deus.
O super-homem realizará a transvaloração. Tudo o que o cristianismo censurara — o orgulho, o egoísmo, a riqueza, a vontade de poder, a sensualidade e a nobreza de espírito — deverá voltar a modelar e inspirar a humanidade. A resignação, a docilidade e o servilismo, serão sucedidos pela ação, pela inconformidade e pelo domínio. O lamento do resignado cederá lugar ao grito do forte!
Se Cristo pregou o Sermão da Montanha para os pobres de espirito, Zaratustra lança o Evangelho dos Fortes, o tônico para fortalecer os destemidos. Seu sermão não é para todos, é para poucos escolhidos.