Li Bom dia, Tristeza quando tinha a idade da personagem Cécile. Foi amor à primeira vista: ali estava, em carne viva, a terrível beleza da adolescência, quando o mundo e os outros são vistos, pensados e sentidos com uma intensidade simultaneamente sábia e pueril. Viajei com Cécile para a Riviera Francesa. Conheci o seu pai, Raymond, um sedutor alegre e superficial. Desejei ser Cyril, a paixão estival de Cécile. Sonhei com Elsa, com o corpo de Elsa, que sempre imaginei igual ao de Rita Hayworth. E também temi Anne - a sua elegância altiva, sofisticada, parisiense, uma ameaça para qualquer jovem rebelde e temperamental. Alguém dizia que só seremos verdadeiramente adultos no dia em que aprendermos a chorar em silêncio. Bom Dia, Tristeza é a história dessa aprendizagem - um Bildungsroman, ou "romance de formação", onde as alegrias e as tragédias não têm a pulsão épica do romantismo alemão; e talvez por isso nos pareçam tão próximas, íntimas, autobiográficas.
João Pereira Coutinho - Colunista da Folha
Ficção / Romance / Literatura Estrangeira