Esqueça Freud e sua declaração de que evitava ler as obras de Arthur Schnitzler por temer que influenciassem o seu pensamento.
Tratar o escritor austríaco como um duplo de Freud em registro ficcional, como virou clichê, é uma traição - ao escritor e ao criador da psicanálise.
Schnitzler e Freud interessavam-se por sexo e morte, mas acabam aí as confluências.
Enquanto Freud privilegiava as perversões, Schnitzler explora o nó que liga sexo e morte para jogar uma luz (bruxuleante que seja) sobre a mediocridade da vida conjugal burguesa e as razões da infidelidade.
Em Breve Romance de Sonho, um médico a quem a mulher relatara uma fantasia sexual fica dilacerado de ciúmes e vai visitar um paciente. Encontra-o morto, flerta com sua filha e, sem planejar, acaba a noite numa orgia de mascarados.
Ali, o ideal de frenesi e sexo sem limites dos bacanais é substituído por melancolia e morte.
Há um clima de delírio e terror íntimo, a invasão de um mundo fantasmático e mutante, do qual nunca se sabe se é a narração de um sonho, pesadelo ou encenação, que parece aproximar Schnitzler do expressionismo alemão. Ou de um Kafka que tivesse olhos para o sexo.
Erótico / Romance