O absurdo da vida moderna em uma cidade grande encontra em Ignácio de Loyola Brandão um crítico cruel e impiedoso, com um humor agridoce que pode ser, no fundo, simpatia, condescendência ou a suprema forma de sarcasmo. Ou todas reunidas, batidas em liquidificador e bem misturadas. Pode ser. Cabeças de Segunda-feira, com as suas situações insólitas, suas frustrações e suas obscenidades exprime um pouco desses sentimentos, mas também a relação de amor e asco, fascínio e repulsa que o autor mantém com a sua época e a cidade em que vive.
O livro divide-se em cinco grandes temas (a criação, o desejo, o amor, o homem, a mente), que podem servir de inspiração para histórias de todo tipo e formato, bem comportadas, quadradas, redondas. Loyola deles extraiu uma mistura ácida de insólito e gozação, um pouco além ou aquém da realidade (a anã pré-fabricada, a irrefreável parideira), e flagrantes do caos urbano, em visão cínica e implacável: o gozo atrás das árvores, obscenidades para uma dona de casa.
Mas há também lampejos de simpatia (em realidade simpatia e crueldade, um jogo sadomasoquista com a personagem) pelos sonhadores frustrados, quase sempre inofensivos, como no sarcástico 45 Encontros com Vera Fischer.
Simpatia e sarcasmo se aguçam ainda mais quando trata do sonhador erótico que às mulheres de carne e osso prefere as mulheres irresistíveis das revistas pornográficas (Anúncios Eróticos). A fantasia superando a realidade, a fuga da vida, temas tão freqüentes na obra do autor.
Ignácio de Loyola Brandão nasceu em 1936, em Araraquara, SP. Desde os 16 anos trabalha no jornalismo, profissão que influenciou duplamente a sua ficção, na linguagem e na visão do mundo. Premiado no Brasil e no exterior, tem mais de trinta livros publicados, entre romances, contos, reportagens, vários deles traduzidos.
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