O livro de Ozires Silva e Décio Fischetti é um documentário magnífico, com o testemunho dos autores, que conheceram e conviveram com o marechal. Ozires Silva, além de ter sido aluno do ITA, é um dos criadores da Embraer.Quem se recusa a ler prefácios deve abrir uma exceção neste livro e ler o texto do brigadeiro Tércio Pacitti - ex-aluno (turma de 1952) e ex-reitor do ITA -, que faz, em poucas páginas, um dos mais belos retratos de Montenegro, mostrando as cinco virtudes que possuía, simultaneamente, todas com a inicial H: humildade, habilidade, honestidade, humor e humanidade.
O regime militar instaurado em 1964 iria cometer mais uma injustiça contra esse grande brasileiro. Amigo e colega do brigadeiro Márcio Mello e Souza, comandante do 4.º Comando Aéreo de São Paulo, ele resiste à instauração de uma comissão de inquérito para apurar as denúncias e punir os alunos e professores acusados de comunistas e subversivos. Sua primeira reação foi dizer, em telefonema, ao brigadeiro: 'Márcio, escute o que eu vou falar. Eu sou da mesma patente que você, colega de turma e um pouco mais velho de idade.
De modo que, se você puser o pé aqui no CTA, eu te prendo!'Mas o pior aconteceu, tempos depois: a comissão foi instalada e puniu professores e alunos. Ambos os livros - o de Morais e o de Ozires - mostram, entre outros episódios, a injustiça cometida pelo brigadeiro Eduardo Gomes, então ministro da Aeronáutica, em 1965, ao exonerar Montenegro da direção do CTA, por motivos puramente político-ideológicos.Cearense de Fortaleza, Montenegro nasceu em 20 de outubro de 1904 e morreu em Petrópolis, aos 95 anos. Em 1964, aos 60 anos, foi perdendo a visão e, em poucos meses, ficou completamente cego. Mesmo assim, não se tornou um homem amargo, passando a fazer palestras e trabalhando por muitos anos.