O leitor encontrará neste livro, organizado pelo escritor Sergio Faraco, contos que obedecem a dois principais recortes: primeiro, são exemplares de realidades brasileiras do século XX e, apesar de seu virtuosismo estilístico e de falarem sobre sentimentos comuns a todos seres humanos, são histórias muito localizadas no tempo e no espaço, escrita por autores de diversas regiões brasileiras. Em segundo lugar, têm em comum protagonistas crianças ou jovens – ou que rememoram a juventude –, ou protagonistas que, mesmo sendo adultos, experimentam uma verdade reveladora ou o absoluto impacto do dar-se conta de algum insondável mistério da vida.
Destas pequenas pérolas da narrativa curta depreende-se pasmo, surpresa, medo e nostalgia. É o caso do protagonista de “Sorriso de fliperama”, do mineiro Duílio Gomes, que atrevessa a infância de filho de pais separados sob os cuidados de uma empregada e com o consolo de um videogame; do “Meninão do caixote” – conto de João Antônio, paulista radicado no Rio de Janeiro –, cuja vida de menino de classe baixa – filho de costureira – descamba para jogatina de bares de bilhar na lapa, com a pouca altura sendo vencida pelo auxílio de uma caixa; do conto “As formigas”, de Ligia Fagundes Telles, em que a atmosfera misteriosa do quarto de um pensionato traduz a inquietação de duas garotas que acabaram de chegar à cidade grande; e também da história do gaúcho Moacyr Scliar, em que, nas lembranças da infância, a imagem de um trem-fantasma fica indelevelmente associada à morte de um amigo.