Poderá parecer que estes contos, rompendo com um silêncio cúmplice e conivente sobre as misérias da chamada “vida fácil”, não passem da retomada de um passado distante. Contudo, restritos aos limites do imaginável, situam-se no plano de uma mesma e permanente realidade que, se não se esquece e se oculta deliberadamente, tem sido abordada com os prejuízos e preconceitos característicos de uma sociedade conformada por suas próprios mazelas.
O tema relativo ao mercado prostibulário e, especialmente ao tráfico de mulheres foi sempre desenvolvido através de estereótipos, no plano do melodrama de folhetim e do convencionalismo conformista, através de um discurso moralizador de grande poder emocional que o deturpa e que encontra eco na pregação de certos religiosos e reformadores sociais.
Por tudo isto, as histórias de mulheres e homens de vida fácil, girando em torno da sedução barata, da violência gratuita e da perversidade maniqueísta, não têm lugar aqui.
Aldyr Garcia Schlee
Capão do Leão, verão de 2013