Contos de Bordel é uma passagem de primeira classe, com direito a carro alugado e guia, para uma excursão - melhor dizendo, uma incursão - à Boca do Lixo, o apelido nada carinhoso dado ao quadrilátero do Centro Velho de São Paulo plasmado pela prostituição.
As autoras não escrevem. Pegam você pela mão e o conduzem pelas esquinas, hotéis e boates da região. Você vai ser apresentado a prostitutas, gigolôs, rufiões e proxenetas - e vai ter prazer em conhecê-los.
Não espere, porém, encontrar no caminho um lumpesinato estereotipado e maniqueísta. Não há mocinhos nem bandidos, nem santos nem pecadores. As personagens são apresentadas cruas, sem floreios nem adjetivos gratuitos, tal e qual o dia-a-dia da Boca. A narrativa assemelha-se mais ao estilo hard-boiled dos escritores norte-americanos Dashiell Hammett e Raymond Chandler. A diferença entre um Sam Spade e uma Valesca, no entanto, é que ela é de carne e osso - um retrato sem retoques, resultado de um trabalho eminentemente jornalístico.
Renata, Ana Laura e Michele - as autoras, ou melhor, suas guias - vão fazer o máximo para que você goste da incursão. Elas só não podem garantir que será confortável. É provável que você seja sacudido, se revolte e se emocione. É normal, acontece.
Carlos Dias, jornalista