Nas cartas reunidas neste volume, encontradas entre os papéis de Pessoa depois de sua morte, em 1935, os dois discutem e comentam os poemas que Sá-Carneiro envia ao amigo; trocam impressões sobre a vida literária em Portugal, a criação da revista Orpheu e o surgimento de Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e Ricardo Reis, os célebres heterônimos de Pessoa. Das cartas de Pessoa, restaram apenas cinco rascunhos, incluídos neste volume. Em Paris, Sá-Carneiro amadurece sua dicção poética e se deixa influenciar pelas vanguardas artísticas parisienses. Com suas dificuldades finaceiras agravadas pelo início da Primeira Guerra, Sá-Carneiro passa a pedir a Pessoa que o ajude a apurar algum dinheiro nas livrarias lisboetas onde seus livros estão à venda. Segundo o poeta e tradutor Paulo Henriques Britto, que assina a orelha do volume, "as cartas tornam-se um documento impressionante de um homem paulatinamente dominado pelo desespero".
"Não me pude vencer, mas posso-me esmagar,
- Vencer às vezes é o mesmo que tombar -
E como inda sou luz, num grande retrocesso,
Em raivas ideais, ascendo até ao fim: Olho do alto
o gelo, ao gelo me arremesso...
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Tombei...
E fico só esmagado sobre mim!..."
[Mário de Sá-Carneiro, "A queda"]
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