Cortesia: Apenas uma mulher latino-americana

Em um cenário no qual a democracia dava os seus primeiros passos, mas as memórias e cicatrizes dos anos de chumbo ainda pairavam no ar e nas nossas vidas, no aspecto cultural o período ditatorial rendeu uma aproximação entre os povos latino-americanos – que viveram golpes militares e governos autoritários quase que simultaneamente. Se esse enriquecimento da nossa produção artística e musical se deu em decorrência do espírito de colaboração e união que se manifestou entre grupos de brasileiros, cubanos, argentinos, uruguaios e chilenos, por exemplo – que partilhavam das mesmas dores e problemáticas decorrentes dos governos aos quais estavam submetidos em um contexto de polarização devido à Guerra Fria –, a cada passo dado rumo à democratização, nos afastávamos também do nosso próprio território e da nossa identidade enquanto latino-americanos. E foi assim que, com o fim da “Era das utopias”, soltamos as mãos dos nossos vizinhos. Como pesquisadora musical há mais de dez anos, Bruna Ramos da Fonte passou a pesquisar a produção musical, literária e artística em geral produzida em toda a América Latina a partir da instauração dos governos autoritários no contexto da Guerra Fria, a fim de observar de que maneira essas vivências políticas similares foram capazes de nos unir em alguns aspectos durante um determinado período. Durante sua pesquisa, foram muitas as vezes em que ela se perguntou em qual ponto exatamente nós perdemos esse vínculo com a nossa terra e com o nosso povo: será que ele um dia realmente existiu ou foi apenas uma miragem? Sabendo que não iria encontrar essa resposta na solidão dos seus pensamentos, decidiu então buscar essa resposta com algumas das figuras mais relevantes desse período em que se ensaiou essa tão sonhada “unidade latino-americana”.