Crónica do rei pasmado

Crónica do rei pasmado Gonzalo Torrente Ballester


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Crónica do rei pasmado


Clássicos Contemporâneos




[Comentário à ediçãp portuguesa por Cláudia de Sousa Dias]: Ballester é um autor que já nos habituou, de forma assaz viciante, às suas irresistíveis provocações sob a forma de sátira, que deliciam o palato literário mais requintado, tal como um chocolate amargo, perfumado com especiarias.

A arte de Ballester manifesta-se, no caso de «Crónica do Rei Pasmado», em “pegar” num facto, trivial, para o mais comum dos mortais – o desejo de um marido contemplar a esposa tal como veio ao mundo – num episódio romanesco. Ou melhor, burlesco, face à controvérsia, que faz lembrar o humor típico do teatro shakespeariano, uma vez que, à primeira vista, a polémica gerada à volta do assunto em questão poder-se-ia resumir em num único título do dramaturgo britânico: Muito Barulho por Nada. Porque o facto de um marido desejar contemplar a esposa nua não teria, aparentemente, nada de extraordinário. A não ser pela particularidade de o marido em questão se tratar do Rei Filipe IV de Espanha – Filipe III de Portugal – e a mulher em questão, a Rainha Isabel de Bourbon.

Junte-se, ainda, as contingências impostas pelo formalismo da corte espanhola no século XVII que exigia, na época, um requerimento formal de cada vez que o soberano pretendesse passar a noite no quarto da Rainha tendo, para tal, de apresentar justificação. O que implicava que um pedido, tão insólito para a época, colocasse a corte – e o clero em particular – em pé de guerra e desencadeasse toda uma rede de intrigas…

[A Trama]: A situação ficcional escolhida pelo autor insere-se no contexto histórico de uma Espanha dominada pela Inquisição. Tem, à cabeça do reino, um monarca semi-virgem – uma vez que, mesmo sendo pai, estava ainda londe de saber o significado da palavra erotismo –, cuja ingenuidade (ou falta de autonomia) o leva a manifestar publicamente, alto e bom som, a vontade em observar a nudez da Rainha, após ter dormido com uma prostituta ter, pela primeira vez, contemplado o corpo nu de uma mulher.

As dificuldades criadas pelo protocolo, que regula todos os actos do rei – públicos e privados – obrigam o monarca a submeter-se à humilhação de tornar públicos os seus desejos mais íntimos.

Esta ausência de distinção entre vida pública e privada, num chefe de estado, imposta tanto pelos cortesãos como pelo clero, traduz-se numa feroz luta pelo poder entre aqueles que lhe estão próximos. Esta situação encontra apenas terreno fértil quando o poder está ocupado por alguém com uma personalidade dita “demasiado branda”, para não dizer frágil. E de um povo manipulável, porque rude e ignorante, subjugado pelo terror supersticioso de uma vingança divina, face aos supostos “pecados carnais” do Rei que representaria a divindade na Terra. (...) ===Texto completo no blog HÁ SEMPRE UM LIVRO...à nossa espera! === [Editorial Caminho de Lisboa]: "Tal como acontecera já em Espanha, a Crónica do Rei Pasmado foi um grande êxito em Portugal. Nada mais natural. É que este «scherzo em re(i) maior alegre, mas não demasiado», como o próprio autor lhe chama, é um livro particularmente saboroso, hábil e irónico, narrado com a mestria e a sabedoria de um escritor como Ballester. A partir do pasmo extasiado do rei ao ver pela primeira vez uma mulher nua, e ao querer ver nua também a rainha, toda uma intriga se tece na corte, metendo nobres, inquisidores, uma afamada meretriz, um jesuíta português, a superiora do convento; toda uma tela de uma obra que bem justifica o qualificativo de pitoresca, num divertimento de primeira água."

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