Em "De volta", Antonio Negri fala de sua volta à Itália, em 1997, depois de 14 anos de exílio na França. Ao mesmo tempo, em vários momentos deste 'abecedário' biográfico, Negri tece elogios teóricos e políticos à 'ausência' de memória. O autor sublinha que a opressão se funda sobre a tradição. Mesmo implicando o regresso à prisão, da qual só se livraria sete anos mais tarde, Negri vê sua volta como uma ação, uma saída da solidão do exílio. A 'volta' do filósofo é na realidade uma fuga do militante, fora do vazio do exílio, do mesmo jeito que a escolha do exílio havia sido uma fuga da derrota da prisão. É uma volta aos princípios de um pensamento que se funda na Erlebnis - na experiência vivida, na ação como único critério de verdade. E isso exatamente na medida em que a ação está dentro do processo produtivo das lutas - o problema não é participar, mas construir. As entrevistas, feitas por Anne Dufourmantelle, são densas de referências autobiográficas e relembram desde o assassinato do pai pelos fascistas até a dor de não ter tido o direito de acompanhar o enterro da mãe morta durante o primeiro período de detenção, entre 1979 e 1982. Em 'De volta', Negri reafirma que o intelectual não pode mais ser separado da vida, das paixões, o cérebro e as mãos se recompuseram - é o corpo que constrói o ser, diria Spinoza. A narrativa autobiográfica desenrola-se assim como vivência de lutas entre a prisão, o exílio e o debate filosófico. É nesses termos que Negri discorre sobre Bergson, Gentile e Husserl enquanto sínteses das tradições - francesa, italiana e alemã - da filosofia burguesa do século XIX. Aborda depois Heidegger, Wittgenstein, Nietzsche, bem como três gigantes da filosofia francesa contemporânea, Derrida, Foucault e Deleuze.
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