Desabrigo e Outros Trecos

O autor deste livro tem fama de maldito na literatura brasileira. Nasceu em 1916, filho de pais proletários. Morreu em 1993, meio esquecido na periferia do Rio de Janeiro. Nunca teve reconhecimento público. Muitos escritores, no entanto, foram seus fãs de carteirinha – entre eles Antonio Callado e o crítico Mário Pedrosa. A novela Desabrigo é sua obra mais bem-acabada e tem uma dedicatória que prima pela ironia: "Para mim mesmo, com muita estima". O livro foi escrito no começo da década de 40, mas só conseguiu publicação depois do fim do Estado Novo, em 1945. Fraga queria incomodar, "gastar a sintaxe avacalhada que dá gosto ao nosso povo". O cenário é o mangue carioca. Os personagens são malandros e os capítulos, curtíssimos. O herói, Evêmero (nome que brinca com a palavra "efêmero"), é escritor e inimigo da linguagem bem-comportada. Por isso, as frases não têm pontuação e há muitas, muitas gírias. Fraga até mesmo acrescentou um glossário ao final, embora a maioria dos termos que traduz (como "bacana" e "mancada") hoje em dia seja familiar. É um prazer descobrir ou redescobrir esse texto que merece um lugar de honra na estante, ao lado de clássicos modernistas como Macunaíma, de Mário de Andrade, e Serafim Ponte Grande, de Oswald de Andrade (que, por sinal, também elogiou Fraga). Aumenta mais ainda o interesse do volume o fato de ele conter catorze contos inéditos, os Outros Trecos, escritos ao longo de cinco décadas. Sempre lapidares, eles também são pequenas jóias de um humor versátil, que podia ser amargo (como no caso de Acalanto) ou até surrealista (em O Louva-a-Deus).

Literatura Brasileira