sumindo que as “indústrias culturais” e “criativas” estão “por todo o lado e moldam os produtos artísticos de modo a que eles respeitem os padrões e imperativos comerciais”, Regina Guimarães faz uma análise (muito) crítica de um conceito que parece ter-se naturalizado nas discussões sobre política cultural. Sem deixar de fazer uma leitura mais ampla, de âmbito nacional e internacional, a autora não enjeita a oportunidade para falar a partir da realidade do Porto, que lhe serve como exemplo: “Nas nossas cidades, as indústrias ditas cul… e cria… transformam vento em evento e mostram-se aptas a enquadrar a mega operação de gentrificação do edificado que, na sequência de décadas de abandono e de especulação imobilária, ainda não tinha sido conquistado e/ou investido pelas classes abastadas”.
Ao longo do ensaio, Regina Guimarães reconhece a dificuldade em lutar contra a hegemonia do conceito. Mas é aí precisamente que reside o objecto do livro: na desconstrução do que parece adquirido e definitivo e na mostra de experiências e práticas alternativas. Após o enquadramento teórico, que inclui pertinentes clarificações de conceitos como “indústria cultural” (Theodor Adorno e Max Horkheimer) e de “presente líquido” (Zygmunt Bauman), a autora dedica toda a segunda parte do livro aos depoimentos de mais de duas dezenas de colectivos do Porto que trabalham “na aventura da criação sem entraves e da difusão sem rede” – “núcleos, entre si muito diversos, caracterizados por práticas culturais resistentes” e que podem ajudar a reflectir sobre “como desobedecer às indústrias culturais e criativas”, de forma a assegurar a diversidade e rejeitar a padronização e a mercantilização.
(https://weblog.aescoladanoite.pt/desobedecer-as-industrias-culturais-regina-guimaraes/)
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