O livro conta, assim, as várias histórias dos diversos canibalismos, dividindo-os em dois grandes grupos: os que envolvem religião, rituais e ritos mágicos, classificados como canibalismo cultural (Parte Um), e os que envolvem indivíduos ocidentais, classificados como casos de estudo (Parte Dois).
Mas como, tratando-se de um assunto que é a própria definição da palavra tabu, não poderia deixar de haver a respeito muita ficção (no sentido lato), o livro abre com um capítulo intitulado: Uma palavra de prevenção: canibalismo em mitos, lendas, folclore e ficção. Para fechar com um capítulo cujo título indigesto, que é: Uma onda crescente de comedores de carne? O futuro do canibalismo.
É inevitável dizer que se trata de um tema saboroso: mesmo porque não há quem não tenha, alguma vez na vida, se perguntado sobre o sabor da carne humana. Mas o livro é saboroso também no sentido de apresentar os diversos sabores de várias culturas que praticaram o canibalismo. Assim como o sabor amargo (e tão assustador quanto fascinante) dos predadores sociais que o praticam entre nós.
Pois a carne humana pode entrar para o cardápio por um sentido mágico e religioso (forma de absorver a coragem e a força dos inimigos ou a sabedoria e o humor dos amigos), porque a fome, a miséria ou a guerra não deixaram outra opção, ou como manifestação paroxística de poder na mente insaciável de um predador psicossexual.
Misturando o rigor necessário (com fontes que vão da literatura antiga à arqueologia) ao humor possível, Daniel Diehl e Mark P. Donnelly apresentam, enfim, o cardápio completo sobre o tema, dos âmbitos cultural e antropológico ao âmbito criminal, em que deixaram marca profunda os mais famosos e infames canibais ocidentais, à la Hannibal Lecter (incluindo, não por acaso, o caso real que inspirou o personagem).