Por muito tempo se considerou "Do cidadão" como a obra mais importante de Hobbes. Hoje, a maior parte dos estudiosos se concentra no Leviatã, o que nos dá, justamente, uma boa razão para ler "Do cidadão". Sob vários aspectos, os dois livros se complementam, havendo passagens que se repetem, mas muitas outras em que um esclarece o outro. Destas, provavelmente, a mais importante diz respeito à visão do homem na sociedade. O mesmo Hobbes que no Leviatã insistirá com tanta ênfase em que "as leis de natureza ... são contrárias a nossas paixões naturais, as quais nos fazem tender para a parcialidade, o orgulho, a vingança e coisas semelhantes" e dirá que "os homens não tiram prazer algum da companhia uns dos outros (e sim, pelo contrário, um enorme desprazer); quando não existe um poder capaz de manter a todos em respeito" aqui afirma com mais freqüência os benefícios da companhia dos homens. É claro que a estrutura básica permanece a mesma, de uma oposição entre o estado de natureza e o estado civil, entre a desordem e· a sociedade; mas há algumas indicações de uma semi-socialidade já antes de haver a sociedade, o que no Leviatã praticamente desaparece.
Ensaios