Do Socialismo à Social Democracia

Do Socialismo à Social Democracia Antonio Paim


Compartilhe


Do Socialismo à Social Democracia





Tendo me afastado do Partido Comunista em 1957, chocado com as revelações
contidas no Relatório Krushov, e concluído o curso de filosofia (basicamente marxismo) na
Universidade Lomonosov, em Moscou, ao tempo em que pertencia àquela agremiação
política, tive naturalmente que me defrontar com as questões que aquela experiência
suscitava. Demorei muitos anos até deslindá-las de forma adequada. De modo que, quando
publiquei, em 1981, A questão do socialismo hoje, algumas delas ainda se encontravam
superpostas, o que suponho haver esclarecido desde então.
Constitui um problema teórico isolado determinar se o marxismo tem alguma
significação filosófica. O prestígio do marxismo adveio do sucesso político e não o contrário,
embora seus partidários tenham procurado obscurecer esse fato, enfatizando a circunstância de
estar associado ao idealismo alemão, sem dúvida alguma a expressão filosófica mais
importante do Ocidente. Na verdade, entretanto, Marx sofreu outras influências que
provavelmente terão sido ainda mais marcantes, como a do cientificismo, isto é, a crença na
possibilidade de ciência social sem atenção aos valores, o que é uma evidência reconhecida.
Mas também uma outra influência obscurecida: a exaltação do Estado nos moldes prussianos,
que nada tem a ver com a idealização moral daquela estrutura – inexistente na Alemanha e
que se desejava constituir, no século XIX, como elemento imprescindível à unificação.
O prestígio do marxismo resultou do fato de que entroncava com as tradições
cientificistas e patrimonialistas e não por se achar associado ao idealismo alemão.
Precisamente isto explica que se haja radicado na Rússia, Estado Patrimonial secular
conforme o demonstrou Karl Wittfogel (1896-1988) e, no Ocidente, apenas em países com
acentuados resquícios patrimonialistas, a exemplo da França e da Itália. É certo que essa
constatação não elimina a necessidade de avaliar-se a sua significação filosófica. Com base
nessa conclusão, dissociei os dois temas que se achavam superpostos no livro de 1981.
Desde então retomei o projeto de livre-docência que havia elaborado na antiga
Faculdade Nacional de Filosofia, ainda na década de sessenta, e trabalho no texto que
denominei de Avaliação crítica do marxismo e descendência, no qual espero dar conta do
aspecto teórico do problema.
Restava estudar a experiência do socialismo ocidental a fim de dispor de um
parâmetro que me permitisse dissociá-lo do comunismo, isto é, da experiência soviética. É de
percepção intuitiva que o socialismo é uma aspiração moral que decorre do cristianismo e do
próprio judaísmo. Sintetizando de forma magistral os Dez Mandamentos, Kant ensinou-nos
que o homem é um fim em si mesmo e não pode ser usado como meio. Trata-se, contudo, de
um ideal moral a ser perseguido. Tentar impô-lo constitui uma violação do espírito do
cristianismo equivalente à que o Papado efetivou ao conceber e instaurar a Inquisição.
Prossegui portanto nos meus estudos da experiência socialista ocidental – que
reúno neste livro – mas também me convenci de que num país de tradição patrimonialista e
cientificista como o Brasil – razão pela qual aqui vingou uma curiosa espécie de marxismo a
que tenho denominado de “versão positivista” – era imprescindível tentar promover o debate
da questão moral, o que tenho, de igual modo, procurado fazer.
A primeira versão dos capítulos V, VI e VII, dedicados à emergência do
movimento operário no século XIX, ao trabalhismo inglês e à social democracia alemã,
apareceram em A questão do socialismo, hoje (1981). Depois refundi-os atualizei-os a fim de
que integrassem o curso à distância, sobre social democracia, que o Instituto de Humanidades
promoveu em parceria com a Universidade Gama Filho. Como Carlos Henrique Cardim
estava preparando uma coletânea intitulada Formação e perspectivas da
social-democracia, sugeri-lhe que incluísse os textos daquele curso, em que fiz pequenas
correções. Basicamente esta é a forma em que são agregados a este livro, com as
imprescindíveis atualizações.
O estudo dedicado à terceira via, que constitui o capítulo nono, não foi divulgado
precedentemente nesta forma.
Achei recomendável reunir as referências bibliográficas ao fim do livro, e não
apenas nas notas de rodapé, aproveitando o ensejo para mencionar outras fontes consultadas.
Ao leitor interessado no assunto, recomendo o mencionado Formação e
perspectivas da social democracia, de Carlos Henrique Cardim. E, a quem desejar conhecer o
posicionamento liberal em face da corrente social-democrata, de forma mais aprofundada da
que efetivo, no capítulo final, sugiro a coletânea organizada por Ubiratan Macedo: Avaliação
crítica da social democracia: o exemplo francês.

Edições (1)

ver mais
Do Socialismo à Social Democracia

Similares


Estatísticas

Desejam3
Trocam
Informações não disponíveis
Avaliações 3.0 / 1
5
ranking 0
0%
4
ranking 0
0%
3
ranking 100
100%
2
ranking 0
0%
1
ranking 0
0%

80%

20%

Marcelo Catanho
cadastrou em:
11/02/2014 16:25:24

Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR