Assim que se entra no universo de Miranda July, os estranhos personagens que narram suas histórias, sempre em primeira pessoa, parecem saídos de um mundo à parte, diferente do nosso. Mas, aos poucos, vamos reconhecendo nas pequenas e grandes excentricidades desses outsiders pessoas que conhecemos – ou nós mesmos. É claro que nós sabemos do que a autora está falando. Como os personagens, estamos perdidos entre cobranças e desejos, e não é todo dia que as muletas de sentimento e memória são capazes de aliviar o peso da vida e nos manter de pé.
Alguns abandonam qualquer apoio e esquecem o ideal para abraçar o concreto e o inusitado (A irmã). Outros se sustentam em lembranças de tempos bizarros, mas seguros (A equipe de natação). Há ainda aqueles que falham em sair da bolha e, mesmo apavorados, forçam-se a continuar sobrevivendo com o pouco ar que há dentro dela (O quintal compartilhado). Miranda July ama esses outsiders e constrói estranhas e belas margens para que eles habitem. Sua escrita segue o ritmo pessoal de cada um deles, calma e intensa. As mais excêntricas atitudes chegam ao leitor impregnadas de carinho, como numa ponte de empatia erguida pela autora.
Os contos de É claro que você sabe do que estou falando dão vida a um mundo agridoce, brutal e instigante. Seus moradores são como parentes que prezamos visitar apesar da casa desarrumada e da família disfuncional.
Contos / Ficção / Literatura Estrangeira