Nem William Shakespeare teve a coragem de publicar uma obra com título tão surpreendente quanto esta, tanto é que escondeu o verso "Ela me dá capim e eu zurro" em uma fala do personagem Drômio de Siracusa, no ato II, cena II, de sua peça A comédia dos erros, de 1594.
Pois foi de lá que este verso saltou para dar título ao primeiro livro de crônicas do poeta e escritor Fabrício Corsaletti. Com quase sessenta textos, a maioria deles publicados na revista sãopaulo, do jornal Folha de S. Paulo, entre 2010 e 2014, e mais alguns inéditos, o volume se abre para uma gama bastante variada de registros e experimentações. Tudo isso permeado por um olhar lírico-cinematográfico, salpicado por doses exatas de nonsense que, paradoxalmente, conferem espessura e profundidade à visão de mundo.
Aqui o leitor encontrará, lado a lado, o esquete cômico, a meditação trágico-existencial, a micronarrativa do cotidiano, o devaneio poético de longo alcance, a especulação desenfreada em torno de uma palavra ou de um prato de comida, e a observação aguda da vida numa grande metrópole.
Como bem observa Augusto Massi na orelha do livro, "Ela me dá capim e eu zurro retoma a linhagem que surge com Brás, Bexiga e Barra Funda (1926), de Antônio de Alcântara Machado, e alcança Malagueta, Perus e Bacanaços (1963), de João Antônio. Bebendo na fonte inesgotável dos bairros - Liberdade, Pompeia, Pinheiros -, cada um deles registra a fisionomia da cidade. O cronista está novamente nas ruas".