O elefante que Lucas Magalhães desenha foi engolido por uma cobra, como naquele famoso livro. Parece um animal que rasteja desimportante nas primeiras linhas. Porém, logo em seguida, ainda no poema inicial, dá o bote. E caímos na armadilha que o autor escondeu pela selva de papel: força poética, camuflada de trivialidade.
"Quanto te devo?" ele pergunta
"vinte do bar"
"e do cigarro?"
"o cigarro eu não vou cobrar porque sei que ele ajudou a te matar"
Lucas é ele próprio um elefante. Com sua memória paquidérmica, une Manoel de Barros, Carlos Drummond, Bukowsky, Aline Bei e Leminski. Com seu estômago poderoso, usa a caneta para digerir as tragédias da vida. Com sua presa afiada, nos oferece este livro para ler alto e devagar, destruindo as árvores no caminho, fazendo passar a poesia que é quase prosa, quase filme, quase tudo.
"A diferença é que amo em ti todas as partes não amáveis." A diferença é que o elefante de Lucas Magalhães quer voar. E quem neste mundo poderá impedir?
Literatura Brasileira / Poemas, poesias