Escritos sobre a Medicina

Georges Canguillem convida a uma crítica da razão médica, da qual esta série de intervenções oferece os prolegômenos. Dessa crítica, ele dá o tom – rigor e limpidez -, ilustra pudicamente as condições – enquête erudita e lucidez seletiva – e assenta os marcos de Hipócrates aos dias de hoje: a medicina não hipocrática nem por isso é anti, não mais do que a geometria euclidiana e antieuclidiana. Não obstante, nada de sistematicidade kantiana no estilo, que resulta, antes, da fórmula cristalizada nietzchiana, melhor ainda, do aforismo ao qual Hipócrates recorreu.
Se o leitor se aplicar a pô-las em série, estará em condições de formular as boas questões, incessantemente renovadas, sobre a natureza médica, as relações médico-doente, doença-doente e as ameaças de sua dissociação, sobre o tratamento, as vias e os efeitos da medicina científica, a saúde e as mentiras de seus silêncios, assim como sobre as armadilhas das metáforas ocasionadas por ela.
Essa intervenções foram publicadas com uma discrição que dificultava o acesso a elas. Sua coletânea produz um efeito de modo a realçar cada um dos textos assim reunidos. Nenhuma repetição desnecessária, uma fulgurância na qual se reconhece o brilho de uma obra que continua a elucidar a atualidade médica.