Com os Labyrinth-Studien (1941), redigidos ainda na Hungria, imediatamente antes do ensaio que aqui os segue, Károly Kerényi, apresenta uma das mais ricas investigações em torno de um enigmático desenho -- o labirinto. Preservando o rigor da ciência histórica, surpreendente é a afinidade entre o tempo dos materiais estudas e a pertinência destes para o tempo em que o autor vive: trabalhar sobre este grafema remoto durante a Segunda Guerra Mundial, significa entrar no enigma do presente onde qualquer segurança metodológica e historiográfica preexistente é dissolvida. A descoberta -- e a razão de correr o risco -- é a de que entrar e percorrer o labirinto comporta sempre, por definição, a cifra da saída: uma linha . Os Estudos testemunham hoje a exigência -- constante para Kerényi -- em perceber qual o sentido do homem na figura do estudioso, na contemporaneidade e materiais que estuda. Além de disponibilizar um estudo exaustivo sobre o labirinto, a presente edição, concentra-se, sobretudo, na descoberta de que estudar os materiais do corresponde ao risco de morrer, a alcançar os gestos próprios. Para além de alguns materiais em torno dos Estudos (dois prefácios, um apêndice e uma recensão), o volume abre com dois breves artigos, onde Kerényi retoma, anos depois, a questão do labirinto; conclui, em apêndice, com duas (as únicas) cartas a Martin Heidegger e uma conferência, de 1953, na qual medita sobre a interpretação que o filósofo dera de Hölderlin, revelando com tal um fértil substrato ainda por estudar.
Károly Kerényi (1897-1973) é um dos mais densos e profícuos historiadores das antigas religiões grega e romana e, em sentido lato, da mitologia mediterrânica. Com uma produção científica vastíssima, e traduzida em diversas línguas, Kerényi é autor de intuições inigualáveis, fruto certamente das permanentes viagens que durante toda a vida o levou aos mais recônditos lugares. É famoso o seu carteio com Thomas Mann. Dos seus estudos, salientamos o monumental Dionysos : Urbild des unzerstörbaren Lebens (München-Wien,1976) publicado postumamente. Esta é a primeira edição que lhe é dedicada no contexto editorial português.
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