A história dos africanos e seus descendentes nas Américas é repleta de intercâmbios entre os dois continentes. Várias espécies de vegetais foram trazidas da África para o Brasil com fins litúrgicos, e muitas foram daqui levadas e adaptadas pelos povos das diversas regiões da atual Nigéria.
Através de uma linguagem acessível, Ewé Òrìsà: Uso Litúrgico e Terapêutico dos Vegetais nas Casas de Candomblé Jêje-Nagô, de José Flavio Pessoa de Barros e Eduardo Napoleão, apresenta o sistema classificatório dos vegetais, segundo a própria visão dos jêje-nagôs, e o culto em louvor a Osányìn (o patrono dos vegetais), que está inserido na tradição oracular do sistema divinatório de Ifá com seus korin ewé (cânticos sagrados).
A obra procura compor uma monografia para cada vegetal analisado, relacionando-os aos elementos naturais, orixás correspondentes, assim como sua utilização dentro dos terreiros. Nas comunidades-terreiro, reduto deste conhecimento ancestral, é comum ouvir-se “Kosí ewé kosí òrìsà”, “sem folha não há orixá”. Ewé Òrìsà constitui-se em leitura de grande utilidade, não só para iniciados, mas também para todos que se dedicam aos estudos dos vegetais nas áreas da religião, antropologia, etnobotânica e botânica.
Culturalmente, a existência da relação homem/vegetal é de suma importância para o elemento negro, seja ele da África ou do Brasil. Pode-se deduzir que a chegada de levas de escravos ao continente americano conduziu-os, obrigatoriamente, a um confronto com a flora aqui existente; havia necessidade de encontrar elementos vegetais que, de alguma forma, reproduzissem as espécies da floresta original. Também é comum a utilização das plantas tanto na liturgia das casas-de-sento como em seus conteúdos ligados à preservação da saúde. São destes importantes aspectos que falam os autores deste livro.
Religião e Espiritualidade