Roger Bastide e Florestan Fernandes, ao se referirem á inexpressividade no negro no mercado de trabalho, na década de 1950, afirmaram textualmente: "O futebol, o rádio e agora também o teatro constituem esferas de sucesso marcante para os negros. A ideia de que os pretos são especialmente dotados para 'certas coisas' está substituindo as antigas noções de que não o seriam 'para nada', ou que seriam, mas no mau sentido, ou de que só seriam aproveitáveis no serviço doméstico" ( em Brancos e Negros em São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1959, p.357).
Há múltiplos sentidos nesse texto que ´podem ser resumidos em apenas uma afirmação; o negro estava fora da estrutura social brasileira ligada á vida séria do país, acomodando-se numa brecha ligada ao lazer, ao lúdico, ao divertimento, enfim, ás atividades não serias do contexto nacional.
Hoje, nas primeiras décadas do século XXI, embora o futebol e a música continuem sendo os grandes nichos de aproveitamento do negro, novas brechas ocupacionais abrem-se para essa população tão desamparada socialmente. Vencendo obstáculos, o grupo passa também a compartilhar com os brancos alternativas ocupacionais associadas ao mundo empresarial - rotuladas como sinônimos de prestigio social. Por trás dessa mobilidade, há um conjunto de fatores, destacando-se o cultivo de uma identidade positiva do grupo negro e as oportunidade educacionais que a sociedade brasileira vem oferecendo, lentamente, aos deserdados da pátria. É esse quadro de mobilidade que Pedro Jaime capta e divulga neste seu primeiro e precioso livro sobre o negro como executivo no cenário capitalista do Brasil atual.
João Baptista Borges Pereira.
Administração / Sociologia