As promessas que nos foram legadas pelo iluminismo europeu cumpriram-se apenas pela metade. Veio o progresso técnico e, com ele, um maior domínio da natureza e um aumento gigantesco nos níveis de produtividade, renda e consumo. Nada disso, porém, traduziu-se num aprimoramento ético e político dos homens. A estrada do progresso não só agride o equilíbrio ecológico como se mostrou incapaz de nos conduzir à felicidade. Por quê?
Na melhor tradição da filosofia moral, Eduardo Giannetti põe essas questões em cena na forma de um diálogo entre quatro amigos, ex-colegas da faculdade. Com o propósito de exercitar a "arte da conversação", eles passam a se encontrar para discutir questões de interessse comum e revivem, a seu modo, o simpósio platônico, o jardim epicurista, o salon setecentista.
Sem tomar partido por esta ou aquela teoria, o livro procura analisar - e não resolver - as tensões entre progresso e felicidade, entre a herança iluminista e os mal-estares da civilização. Giannetti assenta sua erudição nos alicerces do edifício, e nunca na fachada. A bibliografia heterogênea que sustenta o diálogo mostra que não se trata de fechar o debate em determinada área do conhecimento, mas de expandir seus domínios e estimular o diálogo interdisciplinar. Como na "Carta sobre a felicidade" de Epicuro, alição maior é de que a felicidade está mesmo no exercício apaixonado da filosofia: nos prazeres da descoberta e do pensamenteo compartilhado entre amigos.
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